Palestra proferida por Francisco Neto Brandão.
Cônsul Honorario de Portugal em Fortaleza.
Esta conferência foi elaborada com uma aspiração . Que os seus ouvintes oufuturos leitores possam refletir ou extrair fundamentos para que esta nossalíngua comum origine uma maior valorização dos seus países, das empresasonde trabalham, e sobretudo, um estímulo de valorização pessoal quereverta para o *bem estar comum* . As conclusões que julgamos ter retiradoda reflexão e da pesquisa do tema apontam para que no mundo actual serlusófono nos assegura uma vantagem comparativa que nos importa saberexplorar .*O Presidente da República de Portugal , Cavaco Silva defendeu recentementeque a Lusofonia deve ser "um espaço dinâmico de trocas intelectuais e deprodução conjunta de conhecimentos, com projecção e voz própria na chamadaaldeia de global".(...)* *a língua portuguesa tem "mais de 220 milhões defalantes nativos", a quinta língua mais falada no mundo e possui estatutode idioma oficial em organizações como União Européia, Mercosul e UniãoAfricana” *. Acresce ainda uma diáspora sobretudo de Brasileiros ,Portugueses e Cabo-verdianos em influentes comunidades por esse mundo forabem como um crescente número de turistas em movimento.Vivemos na era do conhecimento sendo este também o seu bem mais precioso.Hoje os mercados se difundiram para todo o mundo , aquilo que chamamosglobalização , originando um busca incessante por recursos com os menorescustos possíveis . Atravessamos uma era de importantíssimas conquistasmateriais que no entanto geram turbulência e ansiedade pelas incertezas dacompetitividade . “*A competição , a força mais poderosa do capitalismo geraansiedade em todos nós *ao mesmo tempo que *o padrão e a qualidade de vidaalcançaram níveis sem precedentes em grandes áreas do planeta “ .** *Este é o nosso Mundo na actualidade* .** ** *Poderá a lusofonia global contribuir com um factor de equilíbrio para ummundo auto-sustentável dada a nossa matriz humanista secular, sem abdicar dalegitima aspiração a melhores condições de vida material? Poderemos evoluirdentro da nossa matriz num meio-termo com o padrão só possível apequeníssimos e singulares nações que introduziram o conceito de *Bem EstarNacional Bruto* “*antepondo a felicidade da nação ao desenvolvimentoeconômico por si só “ ?** *A tão falada Globalização, primeiro dos *países*, teve no século xx umsegundo momento a globalização das* empresas* . Adentramos o século XXI comuma nova e desafiadora realidade . *A globalização individual* que nospermite disponibilizar a força de trabalho para qualquer parte do mundo oupor outro lado recorrer a força de trabalho em qualquer parte do mundo ,devido em parte às novas tecnologias de comunicação que *achataram* o mundo. Posso estar em Fortaleza e participar de um curso superior em Portugal ,posso integrar-me em Lisboa num grupo de trabalho internacional conjuntopara desenvolvimento de novos produtos em permanente comunicação . Acentral telefónica que atende países lusófonos pode estar fisicamente emLisboa ou no interior do Estado do Ceará .Essa nova realidade gera uma nova responsabilidade individual . O bem comumdepende fortemente do investimento na nossa valorização pessoal , sendocerto que a competitividade se irá adquirir na dependência dos meios deensino e formação à disposição pelos países .Não nos devemos iludir por isso com a disponibilidade de recursos naturaisou a sua escassez. A riqueza das nações depende dos recursos humanos peseembora a recente valorização dos bens alimentares e energia .O presidente de S. Tomé e Príncipe , ao descobrir grandes reservas depetróleo em suas águas territoriais observou o seguinte em 2003*“As estatísticas mostram que os países em desenvolvimento ricos em recursosapresentam desempenho muito pior que os pobres em recurso , em termos decrescimento do PIB . Seus indicadores sociais também se situam abaixo damédia .Em S.Tomé e Príncipe Estamos determinados a evitar esse paradoxo daabundância* “ Citado pelo Ex presidente do Banco Central Americano *AlanGreenspan* \Certamente outro país lusófono , Cabo-verde , escasso em recurso naturaismas com um povo dinâmico e empreendedor é um feliz exemplo desta constataçãoa que recorrerei mais à frente nesta palestra .A tecnologia de um bem reside nos processos que levaram à sua elaboração. Assim , um simples grão de soja , produto de pesquisas genéticas epatenteado, pode encerrar em si mesmo mais tecnologia aplicada que umequipamento eletrônicoA Tecnologia é conhecimento e conhecimento depende da sua comunicação . Sóa língua permite a transferência de conhecimento . Então bastaria uma únicalíngua no mundo em que vivemos? Caminhamos inexoravelmente para umnivelamento? Julgamos definitivamente que não.Que nos diz a História pois “quanto mais se recua na observação do passadomais se avança na visão do futuro como diria Winston Churchil ? A humanidadeconheceu vários períodos hegemônicos e não se fixou numa única língua mas emricas variantes . Lingua é evolução . A língua portuguesa foi no século XVIe XVII *língua franca *na Costa Africana , no Oceano Indico e no litoral daÁsia mercê da expansão marítima portuguesa . Foi verdadeiramente a primeiralíngua global pois unia povos distantes nos extremos do globo e não apenasterritórios contíguos e próximos como 1000 anos antes se verificou com olatim na Europa e na Bacia Mediterrânica .Com o português um conjunto de Civilizações longínquas do Oriente e doOcidente se encontraram de forma sistemática. A plasticidade da língua , asua facilidade de assimilação por outros povos e a permanência da presençaportuguesa asseguraram a sua manutenção como língua de unidade nacional em 8países em 4 continentes . Não há sequer dois países lusófonos vizinhos .Apenas continuidade geográfica . A diversidade cultural de cada país e a suaidentidade repousam em segurança na união de uma língua e matriz comum .Essa língua uniu um país continente como o Brasil evitando o seudesmembramento . Agregou um território vastíssimo como Angola e Moçambiqueformados por diferentes etnias . Firmou um sentimento nacional naGuiné-Bissau , S Tomé e Príncipe , Timor Leste e nas Ilhas de Cabo-verde .Este seria por si só um patrimônio de valor incomensurável mas almejamosoutro patamar .A nossa língua como factor distintivo e vantajoso .O valor econômico da língua reside em primeiro lugar em assegurar *o baixocusto de comunicação *pela existência de uma vasta comunidade lusófona .Trata-se assim de um primeiro estágio de internacionalização . Para osempresários parece prudente explorar inicialmente o mercado lusófonoinclusivamente cruzando apoios e informações com as instituições dosdiversos países e as suas variadas comunidades na diáspora .Um reforço da competitividade será certamente a harmonização ortográfica quese espera para os próximos anos facilitando a comunicação , o ensino eabrindo as portas para um imenso mercado editorial comum . Resta a pergunta. O que nos fez demorar tanto?A lusofonia abrange espaços geográficos vastíssimos superiores à dimensãodos seus falantes o que ainda permite o seu crescimento demográfico .Por outro lado a valorização do que somos e do que produzimos em bens eserviços , depende da *diferencialidade* , sermos distintivos einovadores para sermos competitivos . Este factor aplica-se a Portugal ejulgamos podemos estender à nossa Comunidade Lusófona . A Lusofonia globalremete-nos para uma maneira de estar no mundo com uma matriz humanista .Acredito que a nossa matriz nos possibilita de forma sui generis uma visão eum respeito pelo outro . Se a nossa matriz é de união pois todos os povoslusófonos se mantêm unidos , se a nossa matriz é de comunicadores , é porqueexiste uma identificação , é porque somos capazes de conhecermos os outrospovos e de nos integrarmos . Se somos capazes de conhecer o outro temos umanatural vocação de identificarmos as suas necessidades , de produzirmos oucomercializarmos bens ou produtos adequados . O mundo globalizado vai pedire valorizar a diferença e aqueles capazes de interpretarem e oferecerem . Omundo globalizado achata o acesso mas valoriza a *diferencialidade .*O Ministro português da Cultura, afirmou recentemente “ *que FernandoPessoa, enquanto produto de exportação da língua portuguesa, pode valer maisem termos econômicos do que a operadora Portugal Telecom *“ (PT, uma dasdonas da Vivo).O ministro anunciou a realização de um estudo sobre o valor econômico dalíngua portuguesa, em colaboração com o Brasil, que vai incidir sobre osoito países lusófonos e as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo.Seria uma vantagem ter como lingua mãe a lingua mais compreendida no mundoque na actualidade é o inglês ? Pelos motivos já expostos e pelos quepassaremos a expor julgamos que não . Aqueles que assim pensarem *dissolvem-senum mar que não é o deles *como diria o Poeta Jorge de Sena . O inglêsnecessário para uma comunicação eficaz adquire-se com apenas alguns anos deensino em escolas públicas na Europa e facilmente evolui e se aperfeiçoa coma prática , o visionamento de filmes , tv , Internet . Um estudante deensino médio europeu domina o inglês básico de um americano .É já um dado adquirido as vantagens do domínio de uma ou de preferência maislínguas estrangeiras para o desenvolvimento do cérebro.Diversas línguas asseguram múltiplos pontos de vista , variantes queenriquecem um patrimônio comum . Dinâmicas economias têm na sua base línguascomplexas que praticamente não ultrapassam as suas fronteiras .Veja-se oexemplo do Japão , Alemanha , Finlândia , Noruega , Suécia , Dinamarca , eagora China com os seus multiplos dialetos. . São línguas complexas que secomunicam muitas vezes pelo código comum . O código comum mais difundido éneste momento o inglês e dentro da China o Mandarim . Esse é o verdadeiropatrimônio do actual momento de transferência instantânea de conhecimento ea sua democratização . O acesso a um código comum mas que ainda assim seadequa a cada realidade cada pais , cada região. Um factor decompetividade é dominar de forma básica a linguagem técnica de uma segunda eaté de uma terceira língua o que será fácil se ensinado desde pelo menos aadolescência . Assim e ao contrário do que afirmava o provocador personagemde Eça de Queiroz , Fradique Mendes , podemos nós afirmar hoje que *opoliglota é patriota . ***Gostaria de sublinhar que o primordial factor de competitividade não éconhecer várias línguas mas *conhecer muito bem a nossa língua* o que só épossível com um ensino generalizado básico e médio público de grandequalidade .*Uma língua não se faz pelo número de falantes, mas pelo seu nívelcultural*O espaço lusófono no verdadeiro sentido do domínio generalizado da norma ,do domínio da língua de forma funcional ainda não existe . Ainda tem de serultimado o que revela o seu potencial . O domínio da norma , da língua foium factor de opressão , um factor distintivo de classes sociais . Importapor isso dotar a população de educação que a emancipe . A língua é a formamais acessível de valorização pessoal . É o nosso cartão de visita . Acompetência por excelência é sem dúvida a forma como comunicamos . Sedominamos a norma , se respeitamos e sabemos transmitir de forma fidedignauma mensagem , somos bons comunicadores e somos assim capazes de nosintegrarmos num fluxo de trabalho , numa equipe de investigação , somosassim capazes de influir e elaborar instruções e procedimentos .Importa assim erradicar de forma prioritária o analfabetismo funcional. Só oprofundo conhecimento da língua materna permite um lastro de competitividadepara a abordagem de novos mercados com outras línguas ,outrasidiossincrasias . Importa valorizar a língua portuguesa como instrumento deprogresso comum e patrimônio de todos os povos .A lusofonia é um espaço não apenas lingüístico mas de afinidades comuns queimporta conhecer . É no entanto um espaço de diferenças profundas que têmque ser respeitadas e devidamente compreendidas sob pena de se comprometeremas relações comerciais e econômicas no que constitui uma “ armadilha “ dalíngua . Isto é algo que importa ter presente quando por são já são vastosos investimentos directos de Portugal nos Países Lusófonos , nomeadamente noBrasil onde na década recente já importam em cerca de *40 Biliões* de reais. Por outro lado Portugal exporta 4,4% da sua produção para os paíseslusófonos africanos , cerca de *4 mil milhões de Reais* o que ésignificativo especialmente se observarmos o peso relativo do lado asimportações desses países .Exemplo de integração lusófona recente Ceará e Cabo VerdeGostaria de pinçar um exemplo do relacionamento entre países e regiões lusófonosdado que é um caso recente em permanente crescimento e que também revelao potencial ainda por explorar . O caso do Ceará e Cabo Verde . Em 2000 oCeará exportava apenas 40.790 USD . Iniciadas as ligações aéreas regularesentre um país e um estado com dimensão de país europeu que é o Ceará foramestimuladas afinidades e firmadas parcerias . Primeiro os pequenoscomerciantes cabo-verdianos demandaram o Ceará e alimentaram um fluxocomercial a que as autoridades logo atentaram dinamizando missõesempresariais e parcerias governamentais . Seguidamente economia e educaçãoderam as mãos e foram criados acordos entre a Universidade Federal do Cearáe Cabo Verde para a implantação de Universidade Pública em Cabo Verde . Sãonumerosos os estudantes cabo-verdianos em Fortaleza tendo sido criada a Casado Estudante de Cabo-verde . Cada pessoa que se desloca a outro paísespecialmente de forma mais prolongada ou duradoura é uma âncora de novoscontactos e relacionamentos futuros permanentes.Para o Brasil o Comércio com Cabo-verde pode ser não muito expressivo apesarde estar em crescimento atendendo aos seus 23 milhões de dólares mas só oCeará , pequeno estado do nordeste representa 21,22% do total vendido peloBrasil sendo superado apenas por S.Paulo .Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).Esse factor é tanto mais importante quando em África é sabido que asrelações de negócio se constroem antes de mais após conhecimento pessoal econfiança mútuo. É o negócio “olhos nos olhos”*Germano Almeida**.** Escritor Cabo Verdiano escreveu. Há poucos dias umamigo meu, brasileiro, hospedado aqui num hotel em S.Vicente telefona-me:Germano, vem cá!, mas enquanto estou pensando, e começo mesmo a dizer, queno momento não me dá jeito nenhum sair de onde estou para ir ter com ele,ele nem me ouve e continua despejando não sei quantas palavras sobre mim.Pouco depois volta a repetir o "vem cá!" e acabo finalmente entendendo: Eleapenas está a chamar a minha atenção para qualquer coisa.**Sem dúvida! Gosto desta língua que me permitiu ler no original asdeliciosas prosas de Eça de Queirós ou Jorge Amado, entender e apreciar o"vem cá!" e nunca me impediu de sentir e afirmar a minha identidade de homemcabo-verdiano.( fim de citação )*Aproxima-se o final desta minha palestraOlho para a lusofonia com orgulho por pertencer a um vasto trampolim para osdesafios do mundo globalizado .Gostaria de dizer para todos os jovens de forma muito prosaica e proverbialcomo diriam as nossas avós . “*Quem não se enfeita por si se enjeita” *,quem não enaltece a sua língua a sua mais primordial e ontológica forma deser , por si mesmo se desvaloriza .Valorizemo-nos portanto com brio e orgulho e sentido estratégico comum .*Venha a maré cheia de uma idéia p´ra nos empurrar **Só um pensamento no momento para nos despertar* ( Zeca Afonso )Para concluirDado que* Ninguém tem mais peso que o seu canto* ( Herberto Helder ) *anossa voz na aldeia global *soa mais alto se for em coro e com convicção .Remetamos também a deliciosa melodia e letra do Zeca Pagodinho , *Deixa avida me levar , * para o plano meramente filosófico meditativo e suportemoscom toda a nossa garra de um passado comum o hino do Geraldo Vandré. *Vem vamos embora que esperar não é saber , quem sabe faz a hora não espera acontecer .
*Muito obrigado.
Francisco Neto da Silveira Brandão.
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