Os ditos populares economizam um tanto de fosfato às cabeças pensantes, no correr das literaturas, trazendo em linha reta o que, por vezes, acostaria largas demandas ao querer expressar a sabedoria das palavras. Lembra a propósito o brocardo de que “depois das tempestades vem a bonança”. Tempestades que também dão-se longas, em alto mar, de sete, nove dias; de anos secos; anos de guerras, angústia; ditaduras, exceção, qual no caso brasileiro dos anos de chumbo, duas décadas e meia de astenia e nevoeiro, de onde saíram os líderes atuais, ferrenhos defensores dos seus feudos e donatários ambiciosos dos parlamentos e palácios, ilegítimos dominadores do peso do ouro e da impunidade nacional.
Em épocas escuras da história, momentos de lapsos cruéis, guerras mundiais, depressões, desastres, estados de sítio, guerras civis, idade média, revoluções, êxodos, guerras frias, exílios, imperou o ânimo de que tudo passaria num piscar de olhos, e dias melhores se instalariam, para nunca mais retornar o tempo do negrume, tangido pelos clarões de novos sonhos.
Isso marcou sobremaneira o século XX. Exemplos clássicos são enumerados com fartura, uns maiores, outros menores, que sobejam nos compêndios. Grandes guerras mundiais. Depressão de 29. Guerra Civil Espanhola. Guerra da Coréia. Do Vietnam. Seis Dias. Golfo. Afeganistão. Iraque. Etc. Cicatrizes vincam fundo a geopolítica, no tropel da civilização, desde os remotos antecedentes das cavernas, dose certa de interpretar o organismo afetado na mesma proporção dos haustos de progressos e conquistas das oportunidades sociais da raça lutadora.
Quando se afigurou que o pêndulo permaneceria sem grandes balanços após a queda do Muro de Berlim, no julgar do Ocidente vitorioso, o povo árabe chegava trazendo a conta do desconforto imposto na divisão da Palestina perante o retorno do povo judeu, dali ausente desde a última diáspora.
Tais movimentos de tropas, canhões, navios, aviões, sacudiriam Europa, Ásia, Oceania, deixando de fora pontos particulares de outras áreas, nesses cem anos de aventura. O continente africano, saco de pancadas dos brancos, quase nunca escapou dos desmandos tempestuosos e seus imperialismos sucessivos. As Américas ensaiaram os episódios armados de Cuba, Granada, Panamá, Malvinas, Nicarágua, Haiti e Colômbia, além de algumas escaramuças entre Peru e Equador e os focos revolucionários na Bolívia, e a Guerrilha do Araguaia, no Brasil, anos 70. Já em dias atuais, nota-se o agravamento de ações táticas na Colômbia, repudiadas pelos países vizinhos, o que põe nos lábios travos de apreensão, conquanto relativa calma ainda existe nesse mundo de cá, mantido abaixo da linha do subdesenvolvimento emergencial, próximo dos Estados Unidos, ricos e poderosos.
Houve, por isso, um tempo em que se pensou andar livre das outras indagações ácidas do restante do universo mundial, onde o fator da guerra restringir-se-ia ao quadro asséptico televisivo e que a paz reinaria altaneira nessa zona de puder, fruto da bonança que viera. Há que trabalhar, entretanto, os homens antes de julgar-se isento de risco, invés de adormecer bem cedo nos cálidos braços da ilusão.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
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