sábado, 12 de dezembro de 2009

Quem deve cuidar do Planeta? - Por Leonardo Boff

Um teólogo famoso, no seu melhor livro – Introdução ao Cristianismo – ampliou a conhecida metáfora do fim do mundo formulada pelo dinamarquês Sören Kirkegaard, já referida nesta coluna. Ele reconta assim a história: num circo ambulante, um pouco fora da vila, instalou-se grave incêndio. O diretor chamou o palhaço que estava pronto para entrar em cena que fosse até à vila para pedir socorro. Foi incontinenti. Gritava pela praça central e pelas ruas, conclamando o povo para que viesse ajudar a apagar o incêndio. Todos achavam graça pois pensavam que era um truque de propaganda para atrair o público. Quanto mais gritava, mais riam todos. O palhaço pôs-se a chorar e então todos riam mais ainda. Ocorre que o fogo se espalhou pelo campo, atingiu a vila e ela e o circo queimaram totalmente. Esse teólogo era Joseph Ratzinger. Ele hoje é Papa e não produz mais teologia mas doutrinas oficiais. Sua metáfora, no entanto, se aplica bem à atual situação da humanidade que tem os olhos voltados para o pais de Kirkegaard e sua capital Copenhague. Os 192 representantes dos povos devem decidir as formas de controlar o fogo ameaçador. Mas a consciência do risco não está à altura da ameaça do incêndio generalizado. O calor crescente se faz sentir e a grande maioria continua indiferente, como nos tempos de Noé que é o “palhaço” bíblico alertando para o dilúvio iminente. Todos se divertiam, comiam e bebiam, como se nada pudesse acontecer. E então veio a catástrofe.

Mas há uma diferença entre Noé e nós. Ele construiu uma arca que salvou a muitos. Nós não estamos dispostos a construir arca nenhuma que salve a nós e a natureza. Isso só é possível se diminuirmos consideravelmente as substâncias que alimentam o aquecimento. Se este ultrapassar dois a três graus Celsius poderá devastar toda a natureza e, eventualmente, eliminar milhões de pessoas. O consenso é difícil e as metas de emissão, insuficientes. Preferimos nos enganar cobrindo o corpo da Mãe Terra com band-aids na ilusão de que estamos tratando de suas feridas.

Há um agravante: não há uma governança global para atuar de forma global. Predominam os estados-nações com seus projetos particulares sem pensarem no todo. Absurdamente dividimos esse todo de forma arbitrária, por continentes, regiões, culturas e etnias. Sabemos hoje que estas diferenciações não possuem base nenhuma. A pesquisa científica deixou claro que todos temos uma origem comum pois que todos viemos da África.

Consequentemente, todos somos coproprietários da única Casa Comum e somos corresponsáveis pela sua saúde. A Terra pertence a todos. Nós a pedimos emprestado das gerações futuras e nos foi entregue em confiança para que cuidássemos dela.

Se olharmos o que estamos fazendo, devemos reconhecer que a estamos traindo. Amamos mais o lucro que a vida, estamos mais empenhados em salvar o sistema econômico-financeiro que a humanidade e a Terra.

Aos humanos como um todo se aplicam as palavras de Einstein: “somente há dois infinitos: o universo e a estupidez; e não estou seguro do primeiro”. Sim, vivemos numa cultura da estupidez e da insensatez. Não é estúpido e insano que 500 milhões sejam responsáveis por 50% de todas as emissões de gases de efeito estufa e que 3,4 bilhões respondam apenas por 7% e sendo as principais vitimas inocentes? É importante dizer que o aquecimento mais que uma crise configura uma irreversibilidade. A Terra já se aqueceu. Apenas nos resta diminuir seus níveis, adaptarmo-nos à nova situação e mitigar seus efeitos perversos para que não sejam catastróficos. Temos que torcer para que em Copenhague entre 7 e 18 de dezembro não prevaleça a estupidez mas o cuidado pelo nosso destino comum.

Leonardo Boff é autor de Opção-Terra. A solução para a Terra não cai do céu, Record 2009.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

HOUVE UM NATAL - Por Emerson Monteiro

Não sei precisar com exatidão a época, se aos meus 11 ou 12 anos, quando, na noite de Natal, recebi três livros, presentes de Papai Noel, que vieram no meio da madrugada embrulhados em papéis coloridos, embaixo da rede. Eram parte de uma série para a juventude, da Editora Melhoramentos, exemplares de encadernação azul, ilustrados com o primor de belos desenhos. Dos títulos, lembro bem, “Por mares nunca dantes navegados”, uma adaptação de “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões; “Vinte mil léguas submarinas”, de Júlio Verne; e “As aventuras de Robin Hood”, da lenda inglesa dos tempos heróicos da Inglaterra.
Com tais obras, vivi momentos deliciosos, na casa onde morava com meus pais, no Bairro Pinto Madeira, em Crato. O bangalô, construído ainda na década de 40 por “Seu” Pergentino Silva, denominava-se Vila Daïro; possuía andar térreo e um segundo pavimento rodeado e encimado por lajões de cimento armado. Nessa casa, passei, com a família, 12 anos inesquecíveis. Ao centro de ampla área, cercava-se de mangueiras, sirigueleiras, pinheiras, goiabeiras, etc., e dispunha, em sua fachada principal, da sombra frondosa de enorme timbaúba, que nos agraciava com generosa folhagem e canto dos mais variados pássaros.
No andar superior, quase todo deserto, habitávamos eu e meu irmão mais velho, Everardo, às vezes sequenciados pelos irmãos de minha mãe, Nairton, Neimann e Nirson, que se demoravam algum tempo a estudar em Crato. Ali permanecíamos quase todo o dia, depois das aulas, a ler e escutar rádio.
A propósito desses presentes e de outros que, às vezes, retornam às minhas recordações dos Natais, quando ouço críticas à figura de Papai Noel, que deixaria para tantas mentalidades, durante a fase natalina, em segundo plano a pessoa de Jesus, o Mestre Divino, indago comigo mesmo o que há de errado de alguém existir como o bom velhinho que distribui lembranças, a simbolizar a alegria e a felicidade. Multidões esquecidas no decorrer de todo o ano, quando, por ocasião do Natal, acontece de merecer das suas mãos alguns brindes, em alusão ao aniversário de Jesus.
Quero crer, por isso, na dupla figuração do ícone Papai Noel, que, além de movimentar as vendas nos finais de ano, pela satisfação que pode ocasionar, seja também o espírito da bondade em ação, mais parecido com o sentimento de doação e fraternidade que percorre o mundo nesta doce temporada da humanidade cristã.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

CONGRESSO DA LINGUA PORTUGUESA EM BRASILIA

PROGRAMAÇÃO

Dia 19/11/09 (quinta-feira)


Às 1930 horas

SOLENIDADE DE ABERTURA

Local: MUSEU NACIONAL DA REPÚBLICA

Esplanada dos Ministérios

Ministro Fernando Haddad

Dia 20/11/09 (sexta-feira)

Às 9 horas

Palestra: A LÍNGUA PORTUGUESA E A CIBERNÉTICA

Palestrante: Magnífico Reitor José Romualdo Degasperi – UCB

Moderador: professor Virgilio Pereira Almeida- Diretor do Curso de Letras

Debates: 09:20 às 09:30 horas.

Às 09.30 horas

Palestra: A LÍNGUA TRANSPORTA VALORES

Palestrante: Professor Adriano Moreira- Presidente da Academia das Ciências de Lisboa.

Moderador: José Carlos Gentili – Presidente da Academia de Letras de Brasília

Debates: 09:50 às 10 horas


Às 10 horas

Palestra: A LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL

Palestrante: Professor Cícero Sandroni – Presidente da Academia Brasileira de Letras

Moderador: Acadêmico Adirson de Vasconcelos

Debates: 10:20 às 10:30 horas

Ás 10:30 horas

Palestra: ACORDO ORTOGRÁFICO

Palestrantes: Professor João Malaca Casteleiro- Academia das Ciências de Lisboa

Professor Evanildo Cavalcante Bechara- Academia Brasileira de Letras

Moderador: Professora Maria Zélia Borges / Universidade Mackenzie de São Paulo.

Final dos debates: 11 horas

Às 14 horas

Palestra: UNIVERSO ESTRATÉGICO DA LÍNGUA

Palestrante: Embaixador Jerônimo Moscardo – MRE ( Fundação Alexandre de Gusmão)- Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais

Moderador: Acadêmico Sérgio Couri

Debates: 14:20 às 14:30 horas

Ás 14.30 horas

Palestra: LIBRAS – LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Palestrante: Diretor Geral Marcelo F. Vasconcelos Cavalcanti

INES- (Instituto Nacional de Educação de Surdos)

Moderador: Acadêmico Raul Canal

Debates: 14:50 às 15 horas

Às 15 horas

Palestra: O BRAILE E O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA

Palestrante: Diretora Geral Érica Deslandes Magno Oliveira

IBC – Instituto Benjamin Constant

Moderador: Acadêmico Innocêncio Viegas

Debates: 15:20 às 15:30 horas


Às 15:30 horas

Palestra: CAPACITAÇÃO DA DOCÊNCIA

Palestrante: Stella Maris Bortoni Ricardo-COLIP (Comissão da Língua Portuguesa.

Moderador: Acadêmico Iran de Lima

Debates: 15:50 às 16 horas

Às 16 horas

Palestra: A LÍNGUA PORTUGUESA NA COMUNIDADE EUROPÉIA

Palestrante: Senador Cristovam Buarque

Moderador: Acadêmica Edylcéa Nogueira De Paula

Debates: 16:20 às 16:30 horas

Às 16:30 horas

Palestra: O BRASIL E A CPLP

Palestrante: Deputado Federal José Fernando Aparecido de Oliveira

Moderador: Acadêmico William de Carvalho

Debates: 16:30 às 17 horas

DIA 21 (SÁBADO)

Às 9 horas

Palestra: A PROTEÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL À LÍNGUA PORTUGUESA

Palestrante: Subprocurador Geral da República Adalberto Nóbrega

Moderador: Romildo de Azevedo – Vice-Presidente da ACLEB

Às 09:30 horas

Palestra: O PAPEL DA MÍDIA NA DIFUSÃO DA LÍNGUA

Palestrante: TV Globo/ Alexandre Garcia

Moderador: Acadêmico Ulisses Riedel

Debates: 09:50 às10 horas

Às 10 horas

Palestra: ENSINO A DISTÂNCIA - UMA PRIORIDADE NACIONAL

Palestrante: Celso José da Costa – Diretor de Educação à Distância- CAPES/MEC

Moderador: Acadêmico Ático Vilas Boas

Debates: 10:20 às 10:30 horas


Às 10:30 horas

Palestra: A LÍNGUA PORTUGUESA NO FUTURO

Palestrante: Professor emérito Wamireh Chacon – Universidade de Brasília

Moderador: José Carlos Gentili – Presidente da Academia de Letras de Brasília

Debates: 10:50 horas às 11 horas

Às 11 horas

ENCERRAMENTO DO CONGRESSO




Informações e Inscrições: Fone: (61) 3448-7250

Campus II UCB, SGAN 916 – Módulo B, sala 128

CEP 70790-160 – Brasília – DF

Email: clpbras@gmail.com

Secretário: João Maia

www.acleb.org.br





domingo, 18 de outubro de 2009

À CONTROLADORIA DO CLIMA, URGENTE - Por Emerson Monteiro

O movimento dos dias enrijece a consciência de quem gosta do prato feito, de preferência cifs e sem ter de lavar depois do uso. O tal “farinha pouca, meu pirão primeiro”, dito baiano dos mais consistentes, a propósito do descaso com que a humanidade conduz só nos beiços do umbigo essa crise monumental sem precedentes do clima do Planeta.
Poucos fenômenos da história conhecida demonstram o tamanho da bronca desse egoísmo galopante que agora parece dominar a mentalidade dos mortais comuns. Iniciaram a longa caminhada futucando beiras de mangue, à busca dos siris abobalhados, catando gravetos para assar javali, no fundo das cavernas escuras, regado a suco de amoras fáceis, nas matas ali por perto, e hoje, graças ao uso desenvolvido de ferro e fogo, arrombam as portas mais intransponíveis do ecossistema, a pretexto de aumentar os ganhos nos produtos internos brutos, para engordar o erário das nações e gerar lucros fantásticos, desaparecidos no ventre promíscuo da besta e nos esgotos das bolsas do mundo, cifras faraônicas transmitidas no cair da tarde pelas telinhas fosforescentes e práticas dos caixões eletrônicos trepidantes.
Enquanto isso, as mãos atadas dos indivíduos apenas perguntam, através das pontas de dedos aos teclados dóceis, onde e quando terminará tanta imbecilidade produzida na farra das autopistas, excrementos de massa informe comandada ao som da voz dos expoentes forjados à custa da ganância e do peso em ouro retirado ou a retirar dos cofres da mesma fornalha coletividade. Líderes artificiais, inautênticos, animais de laboratórios, genéricos, transgênicos.
No outro dia, de narizes entupidos, amarrados nos para-brisas da existência metálica, gargantas doloridas, olhos ansiosos, barrigas obesas, dilatadas ao vento, na força dos momentos incertos das curvas da estrada de Santos, etc.
**************
(Bom, até aqui era o que vinha escrevendo, nesta manhã bonita de domingo de outubro, quando a máquina travou (das tantas desobediências que comete no transcorrer das produções bissextas).
Nessa hora, enquanto aguardava o retorno das funções, pensei comigo: Também, cara, tu, numa época dessas de calor e sequidão, ondas gigantes, incêndios de matas, desmatamentos galopantes, bombas nucleares acesas em poder de povoados, resolve desancar a civilização para teu puro deleite doméstico de fim de semana, no teu ócio desse quintal solitário, sem quaisquer conseqüências práticas, lógicas e racionais? Quer destoar, com isso e sem condição alguma, o velho coro dos contentes, sem mais nem menos, muito menos autoridade? Baixe a bola, cara, e deixe correr o barco. Logo tu, que vem dos termos memoráveis da estação das flores, The Beatles, Tropicalismo, Cinema Novo, egresso desconfiado sobrevivente da geração perdida dos anos 60, escondido na burocracia dominante, boêmio inveterado, lotado de literatura até dizer chega? E esquecido, nos dias de sol que se apresentam mais constantes e tórridos, das madrugadas esplendorosas e suas alvoradas magistrais? Calma, meu irmão camarada, a toda geração suas contradições e esperanças, e não foste tu quem iniciou o projeto do Universo. Jamais queira tirar a alegria dos que riem nas praças ao som das pagodeiras intensas. Deixe transitar, na tela do infinito os dramas cotidianos, mesclados na dança das horas. Viver a vida, sorrir e sonhar. Faça sua parte. “A cada dia se bastam as preocupações de cada dia”. Cumpra o papel que lhe compete, que assim não atrapalha a performance dos outros, nem esgota suas chances de sucesso).
Deste modo, cumpri a promessa feita a mim mesmo de que, caso recuperasse o documento (qual se verificou) me retrataria perante o leitor, em tempo de reavaliar as ideias que vinham chegando um tanto amargosas quanto à atualidade. Desta vez ninguém fala de guerra ou desassossego. Nada disso, pois “há um tempo para o pássaro, há um tempo para o peixe”, do poema de Vinicius de Morais. Esteja pronto a todo instante. Viva a vida com arte!